sábado, 3 de maio de 2014

E quando não se está "programado"?

Falei no post " Gerar X Ter" sobre meus filhos terem sido gerados primeiro em meu coração, na VONTADE que eles existissem e não somente no meu útero.
Quando falei "meus filhos", inclui Lia na lista também, claro!
Para quem não sabe, fiz laqueadura de trompas durante o parto de Noah ( meu segundo). Dois anos depois eu estava grávida. 
Sim , é possível. 
Não, não foi erro medico. 
Não, eu não pedi pra ver as trompas durante a cirurgia e sinceramente, NUNCA conheci ninguém que viu os pedacinhos das trompas cortadas enquanto você está ali doida pra ir pro quarto ver seu bebê. 
Bom, segundo minha médica : " Parabéns! Acontece e aconteceu com você!!!" Mas se você NÃO é como eu , que acredita muito nela, existem  milhões de reportagens e sites que falam sobre isso . 
Esse aqui explica de maneira mais simples: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2009/258/e-possivel-engravidar-depois-de-realizada-a
Pirei! E bem detalhadamente, numa seqüência de emoções, e tentando organizar os  sentimentos daqueles meses , eles ficaram  assim:
  •  Na descoberta,  me senti "a ET". Tipo a mãe da criança do filme " A profecia". O mundo vai acabar e eu vou parir o responsável!!!
  •  Segundo, me senti a Maria. Foi a vontade de Deus e pronto! Esse bebê tem uma missão aqui na Terra e eu fui a escolhida.
  • Terceiro... Chorava toda noite revoltada com essa "mudança de planos", e ao mesmo tempo chorava me sentindo um monstro por não querer essa situação que ia me dar esse "milagrinho".
  • Quarto... Era uma meninaaaa!!! Fiquei feliz! Muito feliz!!! Agradeci a Deus por Ele não ter dado ouvidos ao meu ato de decisão "permanente" de nunca mais engravidar e parecer um Brigadeiro de festa chic. Agradeci por Ele conhecer meu coração e saber que em alguns anos eu ia mesmo querer adotar uma menininha!!!Nina, o nome dela pode ser Nina! Até o ex-chefe de Marquinho comprar um cachorro e colocar que nome? Nina.  Minha filha ficou sem nome por enquanto.
  • Quinto... Menina? Putz que saco! Vai chorar sem motivo, vai "roubar " meu marido, vai menstruar, vai usar minhas roupas, vou ter que fazer penteado, vou ter que comprar coisa rosa, vai gritar, vixe! Tem balé, Barbie e cheirinho de morango!!! Ai, não tenho paciência pra isso!!!
  • Sexto... Não posso engordar de novo, não posso engordar de novo, não posso... Sonhei que carregava uma menina no colo, o nome dela era Lia.Significado? Não sei. O passado do verbo LER, serve?
  • Sétimo, como será que ela será? Será que ela vai ser igual a mim? Será que ela vai ter as mesmas nóias que eu? Será que depois dessa segunda laqueadura ( Deus me livre) eu tenho chance de engravidar de novo?
  • Oitavo, "Médula Óssea! Tenho certeza que eu engravidei porque alguém compatível com ela vai precisar de transplante! É isso!!! Essa é a resposta!" 
  • Finalmente... Ela é ROSA!!! Meu Deus ela é ROSA! Não sou eu, não é Marquinho...ninguém! Ela é ela e ela é completamente, dos pés a cabeça, cor de ROSA!!!

Lia já tinha sido desejada no meu coração.Sempre quis adotar uma criança, e quando estivéssemos mais estruturados aqui no Rio de Janeiro ela chegaria até nós. Ela chegou. De uma maneira diferente. Não programada. 
Tomei um susto grande. Eu ouvia as pessoas me dizerem que "filho é sempre bom", "filho é benção", "foi plano de Deus", "foi o destino"... ok. Pode ser. Mas naquele momento, quando minha vida já tinha uma outra organização ( e olhe que eu NÃO sou organizada), um pensamento bem MEU veio na minha cabeça , lembrando de quando eu decidi que não ia mais PARIR ninguém... e aí, de repente, eu tinha um teste positivo em mãos e um bebê (rosa) no meu útero.
Meus pensamentos e sentimentos entravam em conflito o tempo todo. Eu não queria estar grávida, mas por tudo que eu acredito e vivo, eu prendia meu grito de manhã, sorria para as pessoas que me falavam aquelas frases lá em cima...sorria pra Deus com cara de aceitação (...bobinha! Porque eu acredito que Deus é muito maior internamente, e me vê pelo avesso)...engoli um choro fundo, e eu mesma dei um nó cego na garganta, porque eu não admitia rejeitar aquele bebê. 
Numa noite, esse nó desatou! Chorei uma dor profunda, uma tristeza frustrada de não poder ser ouvida, porque nem pra dentro eu podia gritar porque o meu bebê não poderia ouvir! 
Não aguentei e chorei feito menina mimada, que não queria estar naquela situação. Falei "brigando"com Marquinho : "Eu não quero estar grávida!Eu quero esse bebê! Ele já é meu! Mas eu não quero estar grávida! Eu decidi isso!!! Eu não quero mais sorrir pra ninguém! Eu não quero comprar roupa de grávida!" Marquinho me abraçou e falou: "Tudo bem, Amor. Você não precisa sorrir para ninguém. Você não tem que gostar. Tudo bem.Já já ele vai nascer e Deus sabe o porquê." Acordei de manhã e fiz tudo igual. Sorri pra todo mundo, contei piadas, abri o botão da calça...mas não tinha mais nó, nem choro, nem cara nenhuma pra Deus. Resolvi que não tinha que entender, ser respondida, ou explicada. 
Na maioria das vezes a gente tenta acertar nas decisões que a gente toma.Ter filhos, ou não tê-los não tem certo nem errado. Feio nem bonito. Eu só descobri que essa decisão não depende unicamente de mim. Chame de biologia, destino...eu escolhi chamar de VONTADE. Porque a vontade nasce de um desejo, na cabeça e no coração. Foi uma mistura do meu desejo de adotar uma menina, com a vontade de Deus que ela saísse de mim. Não vou mais procurar porquês...eles já saíram de mim, naquele nó,lembra?!


4 comentários:

  1. Emocionante e corajoso!!!! Te amo ainda mais por isso!

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  2. Que lindo, Flavia. Terminei de ler com os olhos cheios de lágrimas. Emocionante!

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  3. Lindas palavras, me emocionei.......quando Deus quer é assim !

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  4. Amei com força, chorei, e olha que não sou dessas que choram por tudo, faço o tipo menos sentimental, tendo sentimento, dá pra entender?! Tipo, dura na queda...
    Quero ler todos que ainda estão por vir, retirados do seu caderninho, ou não.
    Com certeza terá um especial sobre mudança...
    Bjinhos!!!

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